Sem Norte
Poucas vezes me senti perdido, e agora me sinto completamente desorientado. Até nas vezes em que meu futuro parecia o mais indeterminado possível, era como se eu não me preocupasse, como se eu não me esforçasse pra olhar dois passos além de mim mesmo. E, ainda assim, eu voltava pra uma casa, eu não me preocupava com dinheiro, com comida, meus pais cuidavam de mim e me davam uma liberdade que eu condicionava em troca de não ter que entender nada da vida prática. Foi algo que nunca mudou, o cuidado que eles sempre tiveram por mim, algo que ainda não mudou, mas que está se transformando. Mais recentemente, nesses três anos que passaram, além do cuidado que eles sempre tiveram, eu tinha um caminho na minha frente, um claro caminho que terminou no momento em que eu passei no vestibular, e agora?
Fazem uns cinco anos, eu defini duas coisas: viver pelos meus amigos e pela minha felicidade. No começo a minha bússola pendia mais para os meus amigos. Por ser na quarentena, ninguém era muito feliz, então o tempo de alienação que eu tinha era basicamente medido pelas horas que eu passava no computador falando com eles. A gente fazia planos para o futuro, viagens, todos os itinerários que percorreríamos. Me lembro que eu queria visitar toda a costa do Brasil, mas meus amigos queriam ir pra Europa e pros Estados Unidos (nós não somos tão ideologicamente alinhados). Viver assim não foi muito bom, de certa maneira eu comecei a depender muito deles, e não era como se concordássemos sobre tudo, ao contrário, brigávamos bastante, principalmente eu, que sempre fui meio dramático.
Quando acabou a quarentena eu voltei pra escola, e, enfim, muitas coisas aconteceram. Tive uma fase, daquelas que a gente jura que não é uma fase, em que me envolvi com as pessoas erradas. No final, deu tudo certo, eu acabei rompendo com eles e me integrando à um outro grupo que, nesses três anos de ensino médio - e, até hoje - são meus melhores amigos. A partir daí, comecei a me guiar pela felicidade, não porque eles eram amigos ruins, mas porque eles eram ótimos amigos. Ótimos amigos não se colocam como prioridade, ao contrário, te colocam no pedestal. Então, não me guiava por eles, mas por mim mesmo, eles me ajudaram a entender isso, e, por isso, conquistaram esse lugar na minha vida.
Acabou tudo: o vestibular, a escola, a rotina, a tutela, uma vida mais fácil. Parecia que tinham quebrado um bloco de gelo na minha cabeça, porque eu não entendia mais nada. Não eram mais os amigos ou a felicidade, era o fim e a espera por um começo, todo dia eu passava pensando no resultado do vestibular, virei uma máquina, esperando um “input” para agir. Do nada, começou tudo: universidade, nova cidade, novos amigos, muita liberdade e muitas preocupações. Dessa vez, me chutaram na barriga. Acho que aquele período entre o vazio total e a cabeça cheia foi onde tive mais certeza de onde estava, o que diz muita coisa. Procurando um lugar pra morar, pensando nas conjecturas do futuro, pensando em como as coisas iam ser a partir dali, de certa forma parecia que, embora nada estivesse resolvido, tudo acabaria dando certo.
Daí, a minha mãe transferiu dinehiro pra minha conta, meus pais me abraçaram e voltaram para o apartamento. Um dia depois eles foram embora, uma semana depois e eu deixei a minha irmã no Terminal Tietê. Faz quatorze dias que eu estou sozinho, como eu disse, completamente desorientado. Geralmente, escrever sobre os meus dilemas me acalma, talvez não o resolvam mas, pelo menos, me tranquilizam. Infelizmente, geralmente não significa sempre e, dessa vez, vai ficar no “geral” mesmo. Não acho que essa desorientação vá sumir, muito menos diminuir, mas o tempo passa e, sinceramente, um passo é sempre um passo, independente de eu entender para onde estou indo ou aonde estou. Eu sabia que a minha adolescência estava acabando, assim como a minha infância acabou, mas eu não sabia que eu ia sentir tanta falta, tão cedo. Talvez ser adulto seja justamente isso, andar para o norte quando se vai pelo sul.
Minha bússola não funciona mais. Talvez não funcione porque, agora, nem a amizade nem a alegria sejam princípios válidos, mas talvez não funcione porque eu sou feliz e tenho amigos, e essa parte da vida eu já conquistei. Reclamar é sempre fácil, tenho que reconhecer que, pelo menos, essas preocupações só me vêm agora, e o que eu vejo como uma responsabilidade da vida adulta já estava presente antes para muitos amigos meus. Mesmo hoje, as coisas não estão difíceis, elas apenas estão mudando, e, ainda por cima, tenho novas amizades que cuidam de mim como um filho, e outros que me servem como referencial daquilo que eu quero ser. Agora, o destino é outro, são novas estrelas para um novo hemisfério, se achar um ímã, eu aviso, por enquanto ando perdido, mas bem acompanhado.
Pode não parecer, mas você está no controle. Segue no controle. As variáveis da vida mudaram, só isso. Acontece e precisa acontecer
ResponderExcluirE não será nem a última vez.