10 000 pés
A 10000 pés de altura, faço o que se tornou uma tradição desde que saí de São Paulo pela primeira vez, ano passado. Começo a tocar “Sampa” no meu celular. É um costume que adquiri entre as minhas indas e vindas pela cidade, principalmente por causa do vestibular.
Tudo isso começou quando meu pai falou sobre a música, justamente quando “cruzo a Ipiranga e a avenida São João” em um passeio que fazíamos pelo Centro Histórico. Mais tarde, quando cheguei em casa, comecei a escutá-la frequentemente, ainda mais quando decidi que faria a FUVEST - o vestibular principal de ingresso na Universidade de São Paulo (USP). “Sampa” virou, para mim, um hino. Ela me motivava a estudar cada vez mais, e me fazia sonhar quanto ao futuro, quando eu, enfim, moraria com os meus amigos nessa metrópole internacional.
Quando Cheguei em São Paulo, de carro, porque estava de mudança, também estava escutando essa música. No entanto, dessa vez, foi tudo menos mágico. O cenário de engarrafamento da Marginal Tietê não construía o clima, e, de certa maneira, ali eu entendi que São Paulo realmente existe, e não é simplesmente uma estética. Foi uma desilusão. Ao longo desses meses entendi que, se eu atrasasse quinze minutos para pegar o ônibus, me atrasaria quarenta para a aula. Entendi o que é pegar o ônibus errado com apenas 5% de bateria no celular, e ter que se achar às 21:00 no meio da cidade. Entendi que tem gente que vai me mandar pro sentido contrário ao que eu perguntei no metrô. Enfim, entendi que uma metrópole é uma metrópole, e não apenas uma grande cidade com um nome especial.
É, eu me enganei. Mas, há 10 000 pés, há pouco o que fazer. Eu ainda vou tocar “Sampa”, e, agora, não vou pensar na cidade maravilhosa que me espera, mas nas pessoas que me aguardam para tomar um “bandebrunch”, para reclamar do curso e para me abraçarem, ou rirem, quando eu, fatidicamente, fizer uma péssima escolha amorosa. Indo para o aeroporto, de táxi, eu finalmente olhei pra rua com olhos de turista novamente. Sem me preocupar com perder meu ponto, entendi que a cidade tem sim seu charme. Um dia, talvez eu consiga vê-la com outros olhos, para compreender a sua poesia escondida, a sua arte, a sua urbanidade nativa. No entanto, mais fácil, realmente, é “chamá-la de realidade”.
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